Éo mais recente escândalo a envolver o presidente dos EUA. Uma semana depois de ter sido anunciado o processo formal que poderá levar à sua destituição, eis que vêm a público os pormenores de um outro telefonema que o compromete. Desta vez, terá sido para o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, pedindo-lhe para ajudar o procurador Barr a desacreditar o relatório Mueller sobre a Rússia.
Segundo o New York Times, que cita duas fontes bem situadas na administração americana com conhecimento dessa chamada telefónica, a Casa Branca terá mesmo restringido o acesso à transcrição a um pequeno grupo de assessores presidenciais.
A decisão não é muito comum, mas é similar à forma como foi tratada a ligação de julho com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, a tal que já está no centro do processo de destituição aberto na Câmara dos Deputados contra Trump.
Segundo uma fonte citada pela Australian Broadcasting, foi já confirmado que Scott Morrison esteve ao telefone com Trump. “O governo australiano está sempre pronto para ajudar e cooperar com os esforços que ajudem a esclarecer assuntos sob investigação”, disse um porta-voz daquele executivo. Já o gabinete do primeiro ministro australiano ainda não respondeu.
O relatório do ex-procurador Robert Mueller, sobre possíveis laços entre a Rússia e a campanha de Trump, não menciona diretamente a Austrália, mas confirma que foram “informações de um país estrangeiro” que levaram o FBI a decidir investigar se indivíduos associados à campanha de Trump estavam ligados ao governo russo e a às suas (conhecidas) interferências.
“Mereço saber quem me acusa”
E entretanto... Donald Trump já o disse alto e bom som e sem deixar margem para dúvidas: a presidência americana está a desenvolver todos os esforços para descobrir a identidade do seu denunciante, cujas alegações levaram os democratas a lançar um processo de destituição para o tirarem da presidência.
Os advogados do autor da queixa já apertaram a segurança à sua volta, preocupados com o seu cliente depois de Trump repetidamente o ter comparado a um espião. E depois de uma série de tweets feitos acusatórios durante o fim de semana, o último comentário de Trump, feito aos repórteres que estavam na Sala Oval na tomada de posse do seu novo secretário de Estado do Trabalho, Eugene Scalia, tornou tudo mais claro: “Mereço saber quem me acusa”.
Não ficou muito claro quais as medidas que a Casa Branca está a tomar para identificar o alegado agente da CIA que denunciou o presidente – mas de qualquer forma esta fixação, pública, de Trump em descobrir quem é o seu denunciante, cujo anonimato é protegido por lei, já foi visto como um abuso de poder.
“A lei e a política protegem a identidade do meu cliente contra qualquer tipo de retaliação”, sublinhou Mark Zaid, advogado do denunciante, na segunda-feira, em resposta aos comentários mais recentes de Trump. "Não há exceções para nenhum indivíduo."